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Os protestos de tarifas de ônibus compõem uma bela equação: manifestantes à flor da pele + desorganização – inteligência x despreparo policial = caos. A expressão social põe a democracia em conflito: de um lado o direito de manifestação. Do outro, o de ir e vir e a ordem social.

Os atuais movimentos estudantis são instigantes. Diante dos aumentos salariais nas Câmaras, obras sem licitação para a Copa e escândalos de corrupção que envolvem direita, esquerda e ambidestros, os jovens politizados dedicam o mais poético silêncio. Mas, sabe-se lá por que, os ônibus exercem um fetiche no imaginário pseudorrevolucionário, fazendo com que centavos valham sangue, suor e lágrimas justamente de quem, muitas vezes, tem passe livre. Os scripts são os mesmos: o início pacífico logo se converte em abusos gerais e a inteligência foge de táxi. Os anos passam, as manifestações ligam o nada a lugar nenhum e, na oportunidade seguinte, os antirroletas repetem a estratégia falida: param o trânsito, são dispersos pela polícia e vão para casa postar fotos na internet, como bons cidadãos engajados.

São Paulo e Rio têm protagonizado praças de guerra, perdendo mais tempo com balas de borracha do que com propostas e debates sobre o tema. Não é preciso ser gênio para entender que a forma de manifestação é ineficiente e que arremessar pedras na polícia não reduz o preço de nada. A insistência no erro é como tocar sempre a mesma nota musical e esperar um som diferente.

É verdade que os militares agem de modo desproporcional e desnecessário. Porém, até isso alguns militantes têm colocado em xeque. Em São Paulo, jovens quebraram lixeiras, pontos de ônibus, vidros de bancos e até lançaram uma bomba caseira numa estação de metrô. Ora, são estudantes ou bandidos?

As lideranças, definitivamente, passam longe das salas de aula e expõem o oportunismo das bandeiras partidárias. Em São Paulo, entre o inexpressivo PSTU e o barulhento PSOL, a estrela do PT brilhava ofuscada pelo estranho fato de protestar contra o governo do próprio partido.

A condução das legendas e participação de radicais deixou clara a falta de espontaneidade dos atos, revelando que os confrontos são esperados, orquestrados e, porque não, desejados. No Rio, a polícia deteve 241 pessoas e encontrou coquetéis Molotov, álcool, fósforos, bombas caseiras, machados, lança-chamas e facas. É difícil crer que a população comum e pacífica saia de casa armada, com o rosto coberto e pronta para depredar o patrimônio público que ela mesma sustenta.

Enquanto isso, em Vitória, o silêncio do Movimento Estudantil é apenas uma questão de negócios. Durante três anos, parar a cidade foi quase uma tradição dos “estudantes”, que juravam que a tarifa era apenas uma de suas reivindicações. Diziam que os transtornos eram em nome da melhoria do transporte, da segurança nos coletivos e até mesmo da reativação do aquaviário. Bastou o governo conceder passe livre e pronto: os jovens encerraram suas tão complexas articulações.

A incoerência nas ações não escolhe capital: em 2012, um ônibus Transcol foi incendiado em Vitória. Nessa semana, coletivos foram pichados, janelas quebradas e pneus furados nas grandes metrópoles. Novamente, não é preciso consciência de classe para concluir que serão justamente as tarifas que pagarão pela depredação, dando ainda mais argumentos para as companhias de transportes.

Em meio à Copa das Confederações, o país vive a inconsequência de manifestantes capazes de incendiar barricadas ao lado de postos de gasolina. E também o despreparo policial para lidar com as movimentações. Assim, jornais de todo o mundo noticiam a guerra urbana, que já anunciou novos atos.

A consequência de tais eventos é como a ilógica equação dos protestos: imprevisível. Mas o resultado geral é um só: no fim, todos perdem. Só quem ganha é a história, que acumula mais um capítulo caótico que expõe erros profundos e cria um palco que poderia ter sido evitado com pequenas doses de bom senso e inteligência.

 

Gabriel Tebaldi, 20 anos, é estudante de História da Ufes

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O bom governante é aquele que consegue ser, ao mesmo tempo, executivo e estadista. O executivo, coordena sua equipe para que cuide do dia-a-dia da administração, ouvindo as necessidades imediatas da população, encontrando todos os meios para a desburocratização e agindo rápido, dando respostas imediatas aos problemas encontrados. O estadista, coordena para que sua gestão pense o futuro e desenvolva projetos estruturantes, de longo prazo, que na maioria das vezes não se acabam na própria gestão, mas que entram para a história pela iniciativa e pela coragem de começar algo que outro irá terminar.

 Uma boa gestão pública é feita com uma equipe dividida em três grandes áreas: aquela que cuidará das ações cotidianas, aquela que pensará o futuro e cuidará dos projetos estruturantes e aquela que trabalhará para que a máquina pública funcione de forma eficiente e eficaz. E o segredo do sucesso é fazer com que as três áreas trabalhem de forma sinérgica e transversal.

 Para que se possa montar uma equipe assim, é fundamental ter um núcleo central que articule estrategicamente as ações e que coordene para que não haja duplicidade de ações – sempre desencontradas -, evitando desperdício de recursos.

 Uma boa idéia é juntar toda a equipe e fazer um “brainstorming”, deixando que todos apresentem todas as idéias de projetos e ações que acham que devam ser executadas. Após listar todos os palpites, separar em três blocos: um das ações e projetos que são de manutenção do dia-a-dia; um das ações e projetos que são de longo prazo; e um das ações e projetos que visem otimizar a máquina pública, eliminando-se todas as ações e projetos que tenham a mesma finalidade e que sejam duplicados. A próxima etapa é colocar, em cada um desses blocos, as ações e projetos em ordem de prioridade.

 Pronto, de forma rápida têm-se um Plano Estratégico e uma priorização na alocação de recursos. A partir daí, a gestão estratégica passa a monitorar e a cobrar os resultados de cada uma das três áreas. Isso dá tranqüilidade para o político que governa como executivo e como estadista, porque ele pode dialogar com a população de maneira mais clara e objetiva e gasta mais tempo comunicando do que se desgastando com problemas. E se for preciso, consegue desistir rapidamente de um ou outro projeto e/ou ação, tendo ainda uma boa lista de idéias que podem ser aplicadas ou adaptadas, conforme os interesses da sociedade.

 Essa forma de governar agiliza a administração e troca as intermináveis discussões por termináveis realizações. Ajuda a ter metas claras e de fácil compreensão.

 Um bom exemplo é um projeto de longo prazo que se tenha como prioridade:  Uma obra boa e barata precisa de um bom projeto executivo, que precisa de um bom projeto básico, que precisa de um bom termo de referência, que precisa de um bom estudo de viabilidade, que para acontecer precisa ser definido como meta a ser alcançada. Quanto mais rápido o governante decidir que aquele projeto deve ser executado, mais rapidamente a equipe consegue trilhar esse caminho e concretizar.

 Não é difícil! Basta perder dois dias dentro de um auditório e ganhar vários dias de execução, que poderiam ser perdidos por uma única razão: a indecisão de que rumo tomar.

  

Edna O’top, 52, é Ph.D. em Administração Pública.

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Apenas reclamar dos políticos, ou do povo, demonstra que não se entendeu como funciona a democracia



Às vezes, o sistema democrático não produz resultados muito animadores, e não me refiro aqui à vitória, por exemplo, de uma determinada posição ideológica ou de um partido político. Falo a respeito da ética e do cumprimento das leis do país.Nessas ocasiões, o problema é dos nossos representantes? Ou os culpados somos nós, os eleitores?  Naturalmente, cada cidadão é responsável pelo seu voto, mas os políticos têm também a sua parcela de responsabilidade. Os votos que elegeram um deputado, por exemplo, não legitimam qualquer atitude sua. Ele não pode dizer: “fui eleito, logo posso fazer o que quero”.  A Constituição Federal garante juridicamente a democracia, mas ela também é feita de simbolismos. Não basta a lei para proteger o sistema democrático, é preciso um mínimo de senso comum e de ética por parte dos representantes.


Mas como exigir isso, se os políticos já estão eleitos e dão a impressão de que podem fazer o que querem? Aqui está o ponto fundamental: a democracia requer dos eleitores mais do que o simples voto. Ela pede participação, e seria um equívoco pensar que a urna é o único espaço democrático do cidadão comum. A democracia não é uma mera pesquisa de opinião, uma aferição periódica das opções políticas da população. Não é algo estático. Quem deseja uma melhora da sociedade deve fazer valer politicamente os seus princípios e ideais.

Muitas vezes pretende-se que o Estado faça valer tais princípios, que eduque as novas gerações nesses ideais. “Quando a educação melhorar no país, aí sim teremos bons políticos”. É verdade, mas pode ser também uma grande mentira, nos casos em que esse raciocínio significar que se deve simplesmente esperar dias melhores. Apenas reclamar dos políticos, ou do povo em geral, demonstra que não se entendeu como funciona uma democracia. Nela, a responsabilidade é pessoal, e não dos “outros”. Compete a cada um conseguir que os seus princípios e ideais não sejam princípios e ideais solitários: que muitas outras pessoas os compartilhem e os façam valer politicamente. Merecemos mais, é verdade; mas também precisamos fazer por merecer. Uma boa sociedade não é resultado apenas do Estado, dos políticos. É fruto de instituições justas e de pessoas justas.

Texto: Nicolau da Rocha Cavalcanti - Especialista do Instituto Millenium

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No Brasil, dos 5568 municípios, de acordo com oInstituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT/SP), apenas 11% possui Corpo de Bombeiros. Na maioria das cidades do país, diante de incêndios e outras situações de emergência, predomina a improvisação e a solidariedade para ajudar a evitar tragédias. Temos cerca de 70 mil bombeiros, algo próximo de 0,4 por mil habitantes, enquanto o EUA tem 344 mil bombeiros, 1,5 para cada mil cidadãos, sem contar as brigadas de voluntários. No Espírito Santo, estamos abaixo da média nacional, com 0,34 bombeiros para cada mil habitantes. Em muitas cidades atendidas por municípios vizinhos, o tempo de resposta dos bombeiros ultrapassa uma hora, enquanto o recomendado é que os profissionais cheguem ao local do incêndio entre cinco e sete minutos após o chamado. Pessoas estão morrendo por falta de socorro.

A legislação municipal, estadual e federal, principalmente através das prefeituras e Corpo de Bombeiros, contemplam normas que exigem das edificações uma série de intervenções no espaço físico e utilização de equipamentos específicos para a prevenção e combate a incêndios. Só precisam ser fiscalizadas quanto a sua aplicação. Porém, diante de tragédias como a ocorrida na boate Kiss, no município de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, no início desse ano, podemos verificar que os funcionários dos estabelecimentos que possuem grande aglomeração de pessoas, não estão preparados ou capacitados para lidarem com situações de emergência. Esse fato tem contribuído preponderantemente para um alto número de mortes diante de situações de emergência no país, que poderiam ser, por vezes, evitadas ou minimizadas se os funcionários dos estabelecimentos tivessem orientação e treinamento para orientar e prestar os primeiros socorros aos clientes e vítimas de pânico em locais de grande aglomeração.

No estado, várias empresas atuam na área de segurança do trabalho, oferecendo cursos e treinamentos que estabelecem as condições mínimas para a composição, formação, implantação e reciclagem da brigada de incêndio para atuação em edificações, na prevenção e no combate ao princípio de incêndio, abandono de área e primeiros socorros, protegendo a vida e o patrimônio, até a chegada dos bombeiros. O curso com validade de um ano deverá ser ministrado por instrutores experientes, habilitados e inscritos nos órgãos competentes, como Corpo de Bombeiros, Ministério do Trabalho e Emprego e Conselho Regional de Enfermagem, garantindo excelência ao treinamento.

Em Vila Velha, a lei n° 5.413/2013, de minha autoria, aprovada no mês de abril desse ano, exige a existência de certificado de treinamento para situações de emergência, de todos os funcionários de estabelecimentos com grande aglomeração de pessoas, tais como, casas noturnas, casas de shows, teatros, boates e congêneres. A lei proíbe ainda a utilização de artefatos pirotécnicos em seu interior. O certificado de treinamento deverá ser formulado por empresa especializada na área de segurança e credenciada pelo Corpo de Bombeiros. O estabelecimento que desobedecer a referida lei terá a sua licença de funcionamento cassada, além da aplicação de multa. Compete ao executivo municipal fiscalizar e exigir aplicação dessa lei, podendo evitar que tragédias venham acontecer no município de Vila Velha e vidas possam ser preservadas.   

 

RICARDO CHIABAI é arquiteto, urbanista e vereador de Vila Velha           

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A democracia requer uma sociedade vigilante e responsável. Seja na política, na igreja, no supermercado ou na loja de brinquedos.

 

É cada vez mais difícil saber onde foi parar a nossa capacidade de questionar as coisas, de reagir mais ao que acontece ao nosso redor. Digo “nossa” e “nosso” porque, em algumas situações, também me pergunto se deveria ser menos passivo. Se deveria, por exemplo, deixar de fazer compras em um supermercado já fechado pela Secretaria de Estado da Fazenda por sonegação de impostos.

Outras perguntas surgem da memória: não deveria cancelar o serviço de certa empresa de telefonia celular – campeã em reclamações nos Procons – e ignorar também determinada loja de brinquedos, flagrada pelo Fisco estadual?

São inúmeros os exemplos. Se um supermercado ou uma loja sonegam, o dinheiro público faz muita falta. Cenas de postos de saúde lotados de pacientes – impacientes com a lentidão no atendimento – ocorrem quase diariamente. Nas ruas, é flagrante a falta de um efetivo ideal para a Polícia Militar. Ou seja, na ponta da linha, quem sofre é o cidadão, o mesmo que parece não ligar para a falta de ética e de compromisso público de quem é alvo de denúncias e suspeitas.

Escândalos não surgem à toa. Toda pessoa, ou empresa, tem o direito de se defender e precisa de espaço para apresentar seus argumentos. Mas, na imensa maioria dos casos, não é preciso esperar o fim dos processos para perceber que algo errado realmente aconteceu.

Quando surgem nos jornais, as gravações, as imagens e os documentos de muitas investigações apontam, quando pouco, atitudes suspeitas. Ainda assim, e ainda que empresas acusadas não mudem de comportamento, que partidos não excluam suas maçãs podres, que alguns chefes de igrejas deixem claro que seu objetivo é desviar o dízimo dos fiéis, o que se vê por aí é a passividade absoluta por parte de muitas pessoas.

Na sexta-feira, dia 8, mais de 200 pessoas foram ao Centro de Convenções assistir à palestra de um ex-ministro do governo Lula, e uma pergunta ficou no ar: o público foi pequeno ou grande?

Considerando que ali estava um líder político de envergadura nacional, o número indicava claro desprestígio. Mas, tratando-se de um mensaleiro já condenado pelo Supremo Tribunal Federal, como chefe de quadrilha, a primeira impressão muda de figura.

A todo cidadão é dado o direito de duvidar dos fatos, de questionar a imprensa, de apostar em teorias conspiratórias e de acreditar em perseguições sem sentido. Democracia é sinônimo de divergência, e assim deve ser. A liberdade, porém, não é brincadeira. Requer uma sociedade vigilante, participativa e responsável, seja na política, na igreja, no supermercado ou na loja de brinquedos.

 

TEXTO: EDUARDO CALIMAN (Extraído do jornal A Gazeta - 28/03/2013, Editoria: Opinião, Página 17).

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